Em 2015 tive minha primeira experiência prática com ensino híbrido. Eu trabalhava com ciências sociais em uma turma de 7º ano de um colégio particular.
Era um turma que eu tinha um grande carinho, discutíamos amplamente vários assuntos, eles eram curiosos, gostavam de dar opiniões e tudo ia bem.
Mas pra mim...ainda faltava alguma coisa. Tinha aqueles alunos pouco participativos, aqueles que não conseguiam ficar parados ali naquele contexto de fila indiana, os distraídos e também os tímidos.
Na época eu estava fazendo um curso online de ensino híbrido da fundação Lemann, e aquela turma foi a escolhida para minha primeira experiência.
Falei com os alunos, fui bem clara sobre como eu via a situação daquela turma e o quanto gostaria que tudo fosse ainda melhor. Falei sobre sistema escolar, sobre como existe a pressão pra que todos fossem iguais e como isso afetava diretamente o desenvolvimento deles.
Falei que seria uma experiência tanto pra mim quanto pra eles. Iríamos aprender a fazer diferente, respeitando as individualidades, explorando o potencial de cada um. Falei sobre perfis de aprendizagem, que a maneira como cada um aprende é diferente, e que na escola existe a expectativa de um único perfil: o ouvinte.
O tema da vez, foi o do currículo mesmo, e era sobre Abuso de poder - formas de abuso de poder e suas configurações. Falando assim já se imagina uma ótima aula expositiva, debate,,,, não é?
Mas eu queria mais. E fizemos mais.
Dividimos a turma em quatro grupos, que seriam os perfis de aprendizagem: autodidata, metódico, experimental e mediado. Cada grupo recebeu uma ficha com os tópicos a desenvolver e em seguida , no horário combinado , todos retornariam para o fechamento do tema em um seminário coletivo.
O grupo autodidata foi pra biblioteca pesquisar sobre o tema: na internet ou a própria leitura da apostila. Poderiam anotar o que quisessem , ou simplesmente consumir as informações.
O grupo metódico, utilizaria a apostila com o conteúdo para elaboração de perguntas sobre o tema.
O grupo experimental ficou com a tarefa de confeccionar cartazes com frases sobre o tema, pesquisando também na internet.
O grupo mediado ficou comigo conversando sobre o tema , trocando ideias, fazendo perguntas e anotando o que queriam.
Ao final nos encontramos para o seminário. Dois alunos se prontificaram para ser os "apresentadores" do seminário - o sonho de uma das alunas era dirigir uma reunião profissional, então seria uma ótima oportunidade para treinar. O outro aluno estava investindo em aprender a falar em público.
O grupo que ficou pesquisando na biblioteca resolveu montar uma bancada com os computadores, como se fossem apresentadores de um jornal, prontos a comentar tudo que fosse discutido ali..rsrs
Os cartazes foram organizados no quadro, e em vários momentos os alunos falaram sobre as frases que escreveram.
Assim foi o seminário, todos participando ativamente, me surpreendendo e brilhando. Fiz a mediação complementando ou inserindo alguns pontos importantes e o principal de tudo: todos muito engajados .
Não era uma aula minha, era uma aula de todos. Uma construção coletiva!
Sinto saudades desta turma tão especial. Eles me ensinaram que eu mesma precisava estar sempre aprendendo, sempre mudando, sempre crescendo.
Depois disso, tive outras experiências, testei novos formatos, pesquisei mais coisas, desenvolvi mais coisas.
Nunca mais dei uma aula convencional,,, acho que desaprendi. Sorte minha.
*fotos Colégio Dom Bosco - Maringá Pr
Débora Aquino - Educação Criativa